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A urgência de um novo diálogo cultural
Mario Lucio [Cabo Verde] _ conferência

"Tenho ultimamente refletido sobre as múltiplas possibilidades de diálogos entre culturas, desde a ideia de Nação até à da Crioulização. Debrucei-me na análise histórica da relação entre as diversas culturas, e logo, entre os indivíduos. E pelo que pude perceber, cada época teve de encontrar os seus próprios diálogos, à medida em que os encontros iam provocando também encontrões. Em todos esses momentos, a sociedade sempre foi mais veloz do que as suas instituições e a mente de uma parte dos seus integrantes, fazendo com que muitas vezes o diálogo tivesse chegado um pouco tarde, às vezes tarde demais. Sabemos da ineficácia e da insustentabilidade do monólogo para amainar conflitos advindos de encontro de culturas. Os monólogos privilegiam discursos de superioridade, tentativas de impor uma visão do mundo, ou relações verticais, características de um tempo vencido, do tempo em que uns falavam e os outros escutavam.

A história mostra-nos como houve um tempo em que, exceptuando casos científicos ou de aventureiros, o contacto era sempre iniciado por quem chegava para dominar, como aconteceu com a saga colonial do séc. XV. Uma cultura dominava a outra, estabelecia as hierarquias na relação dos indivíduos com o Poder, e qualquer reclamação ou manifestação fora do cânone era punida. Há registos de uma longa história de silenciamentos. Naquela época de monarquias absolutas ou de Estados totalitários não se falava de diálogos interculturais, porque a cultura era a que se queria impor. O resto era manifestação permissível. O indivíduo tinha que aceitar o estatuto que lhe dessem, ou, em todo o caso, fazer um esforço para subir na hierarquia social e integrar a cultura do poder, como o caso da ascensão à condição de Assimilado em África. Era o tempo do Outro desconhecido. Não havia qualquer intenção de conhecer profundamente o Outro. Cada um criava uma narrativa sobre o outro, e essa percepção era ensinada e repetida e incutida, até o Outro pensar que ele é exactamente a visão que lhe dão de si.  A cultura e a história do Outro eram pensadas e produzidas pela cultura que detinha o poder. E hoje? É sustentável isso?”.

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09 nov _ 20h-21h

CRL - Central Elétrica

 Gratuito

 

 

SOBRE MARIO LUCIO

Músico, cantor-compositor, escritor, é um dos principais artistas do seu país,  o escritor mais premiado internacionalmente, o poeta que marca a viragem na nova poesia cabo-verdiana com o livro “Nascimento de Um Mundo”, um dos mais conceituados pensadores da sua geração, o autor do “Manifesto a Crioulização”.Foi Ministro da Cultura de Cabo Verde, lançou a nova epistimologia sobre a Cultura, com a obra “Meu Verbo Cultura”.

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